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  • Soteropolitano Notícias

Leia a íntegra do pronunciamento de Lula após vencer Bolsonaro nas urnas

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), 77, elegeu-se neste domingo (31) diante de Jair Bolsonaro (PL), 67, atual chefe do Executivo que tentava a reeleição, diz o instituto Datafolha em projeção. Com mais de 99,99% das urnas apuradas, o petista somava 50,90% dos votos válidos contra 49,10% de Bolsonaro —o primeiro a não conseguir se reeleger.


Em seu primeiro promunciamento após vitória nas urnas, Lula comemorou o resultado e falou sobre os desafios de que seu governo terá, como o combate à fome. "Tentaram me enterrar vivo e estou aqui".


Leia a íntegra do pronunciamento de Lula:


[Luiz Inácio Lula da Silva]: Primeiro eu quero cumprimentar cada companheiro, cada companheira que está aqui atrás, que tiveram um papel importante nessa campanha, sobretudo as pessoas que vieram no segundo turno, como a companheira Simone, que foi candidata pelo PMDB…

[Aplausos]


[Luiz Inácio Lula da Silva]: A nossa companheira Eliziane, a nossa querida senadora do Estado do Maranhão, que nos ajudou muito. Os outros aqui são todos marinheiros…

[Risos]


[Luiz Inácio Lula da Silva]: Sabe, de primeira viagem. Eu quero começar essa pequena fala, que vai ser lida, com o agradecimento a Deus, porque...

[Aplausos]


[Luiz Inácio Lula da Silva]: Eu, a vida inteira, sempre achei que Deus sempre foi muito generoso comigo para permitir que eu saísse de onde eu saí para chegar onde eu cheguei. E, sobretudo, nesse momento em que nós não enfrentamos um adversário, nós não enfrentamos um candidato, nós enfrentamos a máquina do Estado brasileiro colocada a serviço do candidato da situação para tentar evitar que nós ganhássemos as eleições. E graças ao povo brasileiro, a quem eu quero agradecer de coração, o povo que votou em mim, o povo que votou no adversário, quem foi para a urna, quem se dignou a cumprir com o seu compromisso civilizatório de cidadania, eu quero dar os parabéns. E, sobretudo, quero dar os parabéns às pessoas que votaram eram mim, porque eu me considero um cidadão que teve um processo de ressurreição na política brasileira, porque tentaram me enterrar vivo, e eu estou aqui...

[Aplausos, gritos]


[Luiz Inácio Lula da Silva]: Estou aqui para governar esse país em uma situação muito difícil, mas eu tenho fé em Deus que, com a ajuda do povo, nós vamos encontrar uma saída para que esse país volte a viver democraticamente, harmonicamente e a gente possa inclusive restabelecer a paz entre as famílias, entre os divergentes, para que a gente possa construir um mundo que nós precisamos e o Brasil. Quero agradecer meu companheiro Fernando Haddad, meu grande parceiro, sabe?

[Aplausos]


[Luiz Inácio Lula da Silva]: Que fez uma campanha extraordinária. A Ana Estela, sua esposa. Agora chega a nossa companheira Marina Silva, nossa companheira...

[Aplausos]


[Luiz Inácio Lula da Silva]: Bem, então... para ficar parecendo intelectual…

[Risos]


[Luiz Inácio Lula da Silva]: Eu vou colocar meu óculos, e a Janja vai retirando as páginas aqui. Chegamos ao final de uma das mais importantes eleições da nossa história. Uma eleição que colocou frente a frente dois projetos opostos de país, e que hoje tem um único e grande vencedor: o povo brasileiro.

[Aplausos]


[Luiz Inácio Lula da Silva]: Essa— esta não é uma vitória minha nem do PT, nem dos partidos que me apoiaram nessa campanha, é a vitória de um imenso movimento democrático que se tornou— que se formou acima dos partidos políticos, dos interesses pessoais, das ideologias para que a democracia saísse vencedora. Nesse 30 de outubro histórico, a maioria do povo brasileiro deixou bem claro que deseja mais, e não menos, democracia. Deseja mais, e não menos, inclusão social e oportunidade para todos. Deseja mais, e não menos, respeito e entendimento entre os brasileiros. Em suma, deseja mais, e não menos, liberdade, igualdade, fraternidade em nosso país. O povo brasileiro mostrou hoje que deseja mais do que exercer o direito sagrado de escolher quem vai governar sua vida, ele quer participar ativamente das decisões do governo. O povo brasileiro mostrou hoje que deseja mais do que direito de apenas protestar que está com fome, que não há emprego, que seu salário é insuficiente para viver com dignidade, que não tem acesso à saúde, à educação, que lhe falta um teto para viver e criar seus filhos com segurança, que não há nenhuma perspectiva de futuro. O povo brasileiro quer viver bem, quer comer bem, morar bem. Quer um emprego, um salário justo, reajustado sempre acima da inflação. Quer ter saúde, educação, políticas públicas de qualidade. Quer liberdade religiosa. Quer livros em vez de armas. Quer ir ao teatro, ver cinema, ter acesso a todos os bens culturais, porque a cultura alimenta a nossa alma. O povo brasileiro quer ter de volta a esperança. É assim que eu entendo a democracia: não apenas como uma palavra bonita inscrita na lei, mas como algo palpável que sentimos na pele e que podemos construir no dia a dia. Foi essa a democracia, no sentido mais amplo do termo, que o povo brasileiro escolheu hoje nas urnas. Foi com essa democracia, real, concreta, que nós assumimos o compromisso ao longo de toda a nossa campanha, e é essa democracia que nós vamos buscar construir a cada dia do nosso governo, com crescimento econômico, repartido entre toda a população, porque é assim que a economia deve funcionar, como instrumento para melhorar a vida de todos, e não para perpetuar as desigualdades. A roda da economia vai voltar a girar, com geração de empregos, valorização dos salários e renegociação das dívidas das famílias que perderam seu poder de compra. A roda da economia vai voltar a girar com os pobres fazendo parte do orçamento, com o apoio aos pequenos e médios produtores rurais, responsáveis por 70% dos alimentos que chegam às nossas mesas. Com todos os incentivos possíveis aos micro e pequenos empreendedores para que eles possam colocar seu extraordinário potencial criativo a serviço do desenvolvimento do país. É preciso ir além, fortalecer as políticas de combate à violência contra as mulheres e garantir que elas ganhem o mesmo salário que os homens ganham no exercício da mesma função.

[aplausos]


[Luiz Inácio Lula da Silva]: Enfrentar, sem trégua, o racismo, o preconceito, a discriminação, para que brancos e negros e indígenas tenham os mesmos direitos e as mesmas oportunidades. Só assim seremos capazes de construir um país de todos, um Brasil igualitário, cuja prioridade seja as pessoas que mais precisam. Um Brasil com paz, democracia e oportunidade. Meus amigos, e minhas amigas, a partir de primeiro de janeiro de 2023, vou governar para 215 milhões de brasileiros e brasileiras, e não apenas para aqueles que votaram em mim. Não existe dois brasis, somos um único país, um único povo, um grande nação.

[aplausos]


[Luiz Inácio Lula da Silva]: Não interessa a ninguém viver numa família onde reina a discórdia. É hora de reunir de novo as famílias, refazer os laços de amizade rompidos pela propagação criminosa do ódio. A ninguém interessa viver num país dividido e em permanente estado de guerra. Este país precisa de paz e de união, esse povo não quer mais brigar, esse povo está cansado de enxergar no outro o inimigo e ser temido ou destruído. É hora de baixar as armas que jamais deveriam ter sido empunhadas, armas matam, e nós escolhemos a vida.

[aplausos]


[Luiz Inácio Lula da Silva]: O desafio é imenso. É preciso reconstruir esse país com todas as suas dimensões: na política, na economia, na gestão pública, na harmonia institucional, nas relações internacionais e, sobretudo, no cuidado com os mais necessitados. É preciso reconstruir a alma deste país, recuperar a generosidade, a solidariedade, o respeito às diferenças e o amor ao próximo. Trazer de volta a alegria de sermos brasileiros e o orgulho que sempre tivemos do verde e amarelo e da bandeira do nosso país. Esse verde e amarelo e essa bandeira não pertencem a ninguém a não ser ao povo brasileiro. Nosso compromisso mais urgente é acabar com a fome outra vez. Não podemos aceitar como normal que milhões de homens, mulheres e crianças neste país não tenham o que comer ou que consumam menos calorias e proteínas do que o necessário. Se somos o terceiro maior produtor mundial de alimentos, e o primeiro de proteína animal, se temos tecnologia e uma imensidão de terras agricultáveis, se somos capazes de exportar para o mundo inteiro, temos o dever de garantir que todo brasileiro possa tomar café de manhã, almoçar e jantar todos os dias. Este será novamente o compromisso número um do meu governo. Não podemos aceitar como normal que famílias inteiras sejam obrigadas a dormir nas ruas, expostas ao frio, à chuva e à violência. Por isso, vamos retomar o Minha Casa, Minha Vida, com prioridade para as famílias de baixa renda, e trazer de volta os programas de inclusão que tiraram 36 milhões de brasileiros da extrema pobreza. O Brasil não pode mais conviver com esse imenso fosso sem fundo, esse muro de concreto e desigualdade que separou o Brasil em partes desiguais que não se reconhecem, esse país precisa se reconhecer, precisa se reencontrar consigo mesmo, para além de combater a extrema pobreza e a fome, vamos restabelecer o diálogo neste país. É preciso retomar o diálogo com o legislativo e o Judiciário, sem tentativa de exorbitar, intervir, controlar, cooptar, mas buscando reconstruir a convivência harmoniosa e republicana entre os três poderes.


A normalidade democrática está consagrada na Constituição. É ela quem estabelece os direitos e obrigações de cada poder, de cada instituição, das Forças Armadas e de cada um de nós. A Constituição rege a nossa existência coletiva, e ninguém, absolutamente ninguém, está acima dela. Ninguém tem o direito de ignorá-la ou de afrontá-la. Também é mais do que urgente retomar o diálogo entre o povo e o governo. Por isso, vamos trazer de volta as conferências nacionais, para que os interessados elejam suas prioridades, e apresentem ao governo sugestões de políticas públicas para cada área — educação, saúde, segurança, direitos da mulher, igualdade racial, juventude, habitação, cultura e tantas outras. Vamos retomar o diálogo com os governadores e os prefeitos para definirmos juntos as obras prioritárias para cada população. Não interessa o partido a qual pertença o governador e o prefeito, nosso compromisso será sempre pela melhoria da vida da população de cada estado, de cada município desse país. Vamos também restabelecer o diálogo entre o governo, empresários, trabalhadores e sociedade civil organizada com a volta do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Ou seja, as grandes decisões políticas que impactam a vida de 215 milhões de brasileiros não serão tomadas em sigilo, na calada da noite, mas sim após um amplo diálogo com a sociedade. Acredito que os principais problemas do Brasil, do mundo, do ser humano, possam ser resolvidos com diálogo e não com força bruta. Que ninguém duvide da força da palavra quando se trata de buscar o entendimento e o bem comum. Meus amigos e minhas amigas, nas minhas viagens internacionais, e nos contatos que tenho mantido com líderes de diversos países, o que mais escuto é que o mundo sente saudade do Brasil. Saudade daquele Brasil soberano, que falava de igual para igual com os países mais ricos e poderosos e, ao mesmo tempo, contribuía para o desenvolvimento dos países mais pobres. O Brasil que apoiou o desenvolvimento dos países africanos por meio de cooperação, investimento e transferência de tecnologia. Que trabalhou pela integração da América Latina, América do Sul e do Caribe, que fortaleceu o Mercosul e ajudou a criar o G20, a Unasul, a CELAC e o Brics. Hoje, nós estamos dizendo ao mundo que o Brasil está de volta, que o Brasil é grande demais para ser relegado a esse triste papel de pária no mundo. Vamos reconquistar a credibilidade, a previsibilidade e a estabilidade do país, para que os investidores nacionais e estrangeiros retomem a confiança no Brasil. Para que deixem de enxergar nosso país como fonte de lucro imediato e predatório, e passem a ser nossos parceiros na retomada do crescimento econômico, com a inclusão social e sustentabilidade ambiental. Queremos um comércio internacional mais justo, retomar nossas parcerias com os Estados Unidos e a União Europeia em novas bases, não nos interessa acordos comerciais que condenem o nosso país a eterno papel de exportador de commodities e de matéria-prima. Vamos reindustrializar o Brasil, investir na economia verde e digital, apoiar a criatividade dos nossos empresários e empreendedores, queremos exportar também inteligência e conhecimento. Vamos lutar novamente por uma nova governança global com a inclusão de mais países no Conselho de Segurança da ONU, e com o fim do direito a veto que prejudica o equilíbrio entre as nações. Estamos prontos para nos engajar outra vez no combate à fome e a desigualdade no mundo, e nos esforços para promoção da paz entre os povos. O Brasil está pronto para retomar o seu protagonismo na luta contra a crise climática, protegendo todos os nossos biomas, sobretudo a floresta Amazônica. Em nosso governo, fomos capazes de reduzir em 80% o desmatamento da Amazônia, diminuindo de forma considerável a emissão de gases que provocam o aquecimento global. Agora, vamos lutar pelo desmatamento zero da Amazônia. O Brasil e o planeta precisam de uma Amazônia viva. Uma árvore em pé vale mais do que toneladas de madeiras extraídas ilegalmente por aqueles que pensam apenas no lucro fácil às custas da deterioração da vida na terra. Um rio de água límpida vale muito mais do que todo o ouro extraído às custas do mercúrio que mata a fauna e coloca em risco a vida humana. Quando uma criança indígena morre assassinada pela ganância dos predadores do meio ambiente, uma parte da humanidade morre junto com ela.

[Aplausos]


[Luiz Inácio Lula da Silva]: Por isso, vamos retomar o monitoramento e a vigilância da Amazônia e combater toda e qualquer atividade ilegal, seja garimpo, mineração, extração de madeira ou ocupação agropecuária indevida. Ao mesmo tempo, vamos promover o desenvolvimento sustentável das comunidades que vivem na região amazônica, vamos provar mais uma vez que é possível gerar riqueza sem destruir o meio ambiente. Estamos abertos à cooperação internacional para preservar a Amazônia, seja em forma de investimento ou pesquisa cientifica, mas sempre sob a liderança do Brasil, sem jamais renunciarmos à nossa soberania. Temos compromisso com os povos indígenas, com os demais povos da floresta e com a biodiversidade. Nós queremos a pacificação ambiental. Não nos interessa uma guerra pelo meio ambiente, pois estamos— mas estamos prontos para defendê-lo de qualquer ameaça. Meus amigos e minhas amigas, o novo Brasil que iremos construir a partir de primeiro de janeiro não interessa apenas ao povo brasileiro, mas a todas as pessoas que trabalham pela paz, a solidariedade e a fraternidade em qualquer parte do mundo. Na última quarta-feira, o Papa Francisco enviou uma importante mensagem o Brasil, orando para que o povo brasileiro fique livre do ódio, da intolerância e da violência. Quero dizer que desejamos o mesmo e vamos trabalhar sem descanso por um Brasil onde o amor prevaleça sobre o ódio, a verdade vença a mentira e a esperança seja maior que o medo.

[Aplausos]


[Luiz Inácio Lula da Silva]: Todos os dias da minha vida eu me lembro do maior ensinamento de Jesus Cristo, que é o amor ao próximo. Por isso, acredito que a mais importante virtude de um bom governante será sempre o amor pelo seu país e pelo seu povo. No que depender de nós, não faltará amor neste país. Vamos cuidar com muito carinho do Brasil e do povo brasileiro. Viveremos um novo tempo, de paz, amor e esperança.

[Aplausos]


[Luiz Inácio Lula da Silva]: Um tempo em que o povo brasileiro tenha de novo o direito de sonhar, e as oportunidades para realizar aquilo que sonha. Para isso, convido a cada brasileiro e cada brasileira, independentemente em que candidato votou nessa eleição, mais do que nunca, vamos juntos pelo Brasil, olhando mais para aquilo que nos une do que para as nossas diferenças. Sei a magnitude da missão que a história me reservou, e sei que não poderei cumpri-la sozinho. Vou precisar de todos partidos políticos, trabalhadores, empresários, parlamentares, governadores, prefeitos, gente de todas as religiões, brasileiros e brasileiras que sonham com um Brasil mais desenvolvido, mais justo e mais fraterno. Volto a dizer aquilo que disse durante toda a campanha, aquilo que nunca foi uma simples promessa de candidato, mas sim uma profissão de fé, um compromisso de vida: o Brasil tem jeito. Todos juntos seremos capazes de consertar esse país e construir um Brasil do tamanho dos nossos sonhos, com oportunidades para transformá-lo em realidade. Mais uma vez renovo minha eterna gratidão ao povo brasileiro. Quero agradecer ao companheiro Alckmin, o meu vice-presidente…

[Aplausos]


[Luiz Inácio Lula da Silva]: … que deu uma contribuição extraordinária. Aos governadores que foram eleitos e àqueles companheiros que não conseguiram se eleger, a nossa luta não começa e não termina com uma eleição, a nossa luta pela conquista de um país justo, um país em que todos brasileiros possam comer, trabalhar, estudar, ter acesso à cultura e ao lazer será uma luta até o fim da nossa vida. Eu canso de dizer: não é a quantidade de anos que uma pessoa tem que envelhece a pessoa. O que envelhece uma pessoa é a falta de causa, é a falta de motivação para a luta, e por isso eu me determinei: o Brasil é a minha causa, o povo é a minha causa, e combater a miséria é a razão pela qual eu vou viver até o fim da minha vida!

[Aplausos]


[Luiz Inácio Lula da Silva]: Um grande abraço, e que Deus abençoe a nossa jornada a partir de primeiro de janeiro. Obrigado, obrigado ao povo, obrigado a Deus e obrigado à imprensa pelo tratamento que deu nesse processo eleitoral. Um abraço de coração, companheiros.

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